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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O tratamento VII

(Continuando...) O ano de 2.001 transcorreu. Nele houve altos e baixos. Momentos de lucidez e momentos de extrema amargura. A dor interior que sentia era terrível! Era uma dor inaudita, desconhecida dos demais e também não podia ser vista pelos que estavam a minha volta, que conviviam comigo. Minha luta não era apenas diária, mas segundo a segundo! Não havia tréguas! O que me fazia lutar para ter uma sobrevida estava naquele que chamo deste o inicio desta narrativa de meu anjo. Meu pequeno anjo de carne e osso! Meu filho caçula! Era nele e por ele que concentrava as minhas tenras e abatidas forças para lutar contra o mal que me atingia de forma vil e covarde; tentando destruir-me e por vezes quase obtendo seu objetivo final. Mas a cada dia que me levantava da cama e lia as letras grafadas por meu filho; aquilo me dava forças para enfrentar o que quer que fosse e aonde fosse e contra quem fosse. Não mais havia temor e medo dentro de mim, somente a vontade de escapar daquela situação em que me encontrava e vencer. O ano de 2.002, começou a melhorar. Já havia aberto novamente o meu escritório, já estava atuando e por incrível que possa parecer, estava atuando até melhor do que antes da minha crise. Foi nesta época que minha medicação foi sendo substituída. Deixei de tomar o caríssimo Efexor Xr e passei a tomar Cloridato de Fluoxetina  e Tranquinal e somente em dezembro de 2.002, foi inserido na minha medicação o medicamento Tofronil, sendo que este último somente o tomei durante trinta dias. Neste período, passei por uma turbulência de sonhos e pesadelos. Um dos meus sonhos, que ficou gravado até os dias de hoje e sei que ficarão, creio, até o final de minha existência, por ter o mesmo sido repetitivo, que foi o fato de que no sonho, estava eu, de volta aos bancos da faculdade que cursei nos idos de 1981. Resumo, estava cursando direito novamente. E durante os sonhos (que a mim parecia real), eu discutia teorias jurídicas com meus professores, e até mesmo havia conflito com os colegas de classe, que me diziam que o professor ainda não havia passado aquela matéria. Conheço superficialmente a teoria dos sonhos apresentadas pelo Pai da Psicanálise Dr. Sigmund Freud, onde ele alude que os sonhos têm conotação sexual; mas também apreendi nas leituras do seu então pupilo, que no meu humilde conhecimento e na minha opinião pessoal, veio a superar seu mestre, o Dr. Carl Gustav Jung, onde este em sua teoria sobre os sonhos, segue a linha mais espiritual. Gosto de ler e apreender com ambos, independente da teoria de cada, mas (minha opinião pessoal), prefiro Jung. Mas enfim, depois de muitos e muitos sonhos, todos repetitivos; dentro do sonho, estava eu, no hall de entrada da faculdade, como ela era na minha época de estudante, quando brilhou em minha mente, o por que de tanta confusão com meus colegas e professores; eu já estava formado e advogando há mais de duas décadas e meia. Daí, deste dia em diante, os meus sonhos simplesmente desapareceram; é óbvio que tive outros sonhos, mas acredito ter sido pertinente mencionar ao menos um deles, objetivando demonstrar que existe racionalidade em meio ao caos mental. Portanto, todos aqueles que estejam passando por um tratamento psiquiátrico, no caso especifico da depressão, podem sim sonhar, seja acordado ou seja dormindo. Dentro de um sistema de lógica e racionalizada, o que quero dizer com isso é que o depressivo não perde a razão; fato este que não posso afirmar em relação a outras patologias mentais, como por exemplo a esquizofrenia. E assim, fui conquistando dia a dia minha condição profissional e agia como se estivesse começando a carreira. Sabes que é muito mais difícil recomeçar do que iniciar uma carreira profissional. Principalmente quando se vive em uma pequena cidade interiorana e repleta de preconceitos idiotas e também ignorantes, digo isso, no sentido de desconhecerem por completo a doença - depressão. Afirmo também, que somente quem passa pelas crises depressivas agudas ou não, podem dizer o que é e como a depressão afeta o interior de um ser humano. Apenas como exemplo, uma vez que nunca escondi de quem quer que seja a doença que me afetava, pois, apreendi a lidar com ela e, também lidar com uma sociedade totalmente ignorante quanto ao assunto depressão, que não uma, mas várias vezes, pessoas me paravam e me perguntavam: - "O que eu sentia? Como são os sintomas da depressão? Etc." e outras me diziam:- "Você com depressão?! O que é isso? Você sempre foi uma pessoa muita ativa, como pode estar com depressão? Caros (as) leitores (as), como era e ainda é difícil você tentar explicar algo que não se pode mensurar e não se pode medir, como também não se é possível fotografar e nem ao menos se consegue visualizar através de um raio x e, ou, até mesmo de exames computadorizados e exames radionicos. Eu, simplesmente, abria um sorriso "amarelo", e respondia: - "Se eu lhe dizer que estou com câncer em alguma parte de meu corpo, simplesmente lhe bastaria, isto pelo fato de que esta doença pode ser visualizada!" E muitas e muitas perguntas e respostas, tudo dependia de quem perguntava e assim lhe dava a resposta. Porém o que mais me impressionou e até mesmo por isso que estou fazendo esta narrativa, foi a grande quantidade de homens querendo informações sobre a doença e de que forma eu descobri e de que forma ela se manifesta. Enfim, a falta de informação, quer pelo governo federal, estadual e municipal, ou por qualquer ONG, (onde existem até para a defesa de baleias, etc.,) não que eu seja contra a defesa da natureza; porém, a própria natureza humana se esquece de defender a si própria e o maior contraste é a malfadada Reforma Psiquiátrica, que fechou milhares de leitos  para atendimento de pacientes mentais no Brasil e que também existem em nossos presídios (depósitos de homens e mulheres), pessoas mentalmente doentes que se encontram presas e sem tratamento adequado. Mas, como fiz com a questão da crença e da religião, não quero misturar aqui a questão política sobre a saúde mental em nosso amado País. (Continuarei...)    

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